sexta-feira, 17 de junho de 2011

Fatos e Lendas: Talheres

      Você sabia? O garfo não foi inventado na idade média e nem foi utilizado nesta era. Apesar disso, sua invenção é muito antiga. Os gregos já utilizavam esse talher muitos anos antes de Cristo nascer e há relatos na bíblia sobre seu uso pelos hebreus. Mas, por algum motivo, após a queda do Império Romano e durante quase toda a era medieval o garfo simplesmente sumiu das mesas.
         A colher e a faca eram talheres comuns na mesa. Pela etiqueta da época o correto mesmo era comer com os dedos; hábito praticado largamente pelos camponeses que não tinham dinheiro para comprar talheres. Se você fosse um nobre, lavaria suas mãos em águas perfumadas e secaria com uma toalha de linho antes da refeição (aposto que você achava que eles não lavavam as mãos! Tudo bem, tudo bem. Eu também achava que não). Mas isso não significava que eles eram higiênicos. Muito pelo contrário. O uso de guardanapos na mesa era muito raro e até o ano de 1400 era comum as pessoas limparem as mãos sujas de comida com o pano da mesa ou da própria roupa. Um hábito nojento para os padrões atuais era assoar o nariz com as mãos (mesmo lavadas) e continuar usando as mãos para se servir nas bandejas durante a refeição. 
      Cada pessoa também tinha a sua própria faca guardada em um cinto para cortar a carne e levar a comida à boca. Esse era um instrumento que até os camponeses tinham. O interessante é que essa era a mesma faca que as pessoas usavam para matar animais ou pessoas (nas guerras, por exemplo) ou para tirar o couro dos animais. As colheres também eram de uso pessoal e os nobres competiam para ter a melhor, mais cara e maior colher. Por isso era comum as colheres de prata e ouro revestidas com pedras preciosas. Eram tão raras e caras que eram deixadas como herança. O comum era beber a sopa diretamente da tigela e usar a colher (nobres) ou os dedos (camponeses) para pegar os legumes e a carne.
        O garfo já era utilizado em alguns países europeus, como a Espanha e países que formava o Império Bizantino (Europa Oriental), mas sua utilização não se popularizou na Europa medieval católica até os anos de 1500. Isso porque o garfo era mal-visto pela Igreja Católica que associava o instrumento com o tridente do Diabo.

“Deus em sua sabedoria deu ao homem garfos naturais – seus dedos. Assim, é um insulto a Ele substituí-los por garfos de metal”, diziam os padres no século 18"

      Uma história interessante de preconceito contra o garfo foi protagonizada pela princesa Teodora em meados dos anos 1000. Herdeira do império Bizantino, ela se casou com o Doge de Veneza (título equivalente ao rei) e trouxe na bagagem um garfo de ouro de dois dentes. Por se recusar a comer com as mãos, a princesa foi ameaçada de excomunhão pela poderosa Igreja. A morte precoce e sofrida da princesa por uma infecção intestinal foi vista pelo povo com uma punição divina pelo uso do talher proibido. Somente 500 anos depois o uso do garfo seria difundido na Itália para ajudar a comer massa. Na Inglaterra seu uso só começou a se popularizar em 1600 e, em Portugal, somente em 1836 pela rainha Maria II, filha de D. Pedro I. Mas aí já não estamos mais falando da era medieval e isso é uma outra história.
      Espero que tenham gostado de mais essa matéria de Fatos e Lendas, que são frutos de alguns anos de estudo para poder montar o cenário do livro "O Preço da Imortalidade". Se gostarem, por favor, comentem abaixo. Vocês também podem sugerir temas para os próximos posts. Para ler outros tópicos, basta clicar no link abaixo e se divertir. Um grande abraço e até a próxima.  

2 comentários:

Claudia disse...

Adorei!! Mto interessante!!
Gostaria de saber mais sobre os habitos, como escovar os dentes, por exemplo! To adorando esses posts!
bjos

Felipe Santos disse...

Claudia, obrigado pelo apoio. Como você sugeriu o próximo fatos e lendas vai ser sobre a (falta de) higiene medieval. Beijos!

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